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sábado, 2 de outubro de 2010

Beirute: ir ou não ir?

Planejando minha viagem ao oriente, com 40 dias dedicados ao aprendizado da língua árabe, já me havia batido uma dúvida sobre aproveitar para ir ou não ao Líbano, quando retornasse do Egito, em janeiro.

O país (لُبْنَان, Lubnan) que faz referência aos "montes de leite", sempre cobertos de neve, visíveis desde a costa do Mediterrâneo, sempre foi considerado um exemplo do poder ambíguo do homem, que destrói e ergue coisas belas. Quer dizer, um paraíso terrestre devastado: na antiguidade, era coberto de cedros até que a exploração de madeira levou a árvore à quase-extinção; depois, considerada a Paris do Oriente, a capital, Beirute, foi completamente arrasada por seguidos períodos de guerra. As marcas mais fortes, vistas nas fotos desta postagem, são as da guerra civil que durou de 1975 a 1990.

Com tudo isso, mais as constantes crises com Israel e o poderio político do Hezbollah, uma facção encarada como terrorista sob nosso ponto de vista ocidental, eu desisti de estudar no país e de sequer passar por lá em visita.

Hoje, entretanto, me deparei com uma matéria da Veja Online sobre um novo renascimento de Beirute - com os prós e contras de tornar-se uma cidade internacionalizada e dominada pela arquitetura espetáculo pós-moderna. Reproduzi essa matéria aqui, abaixo, e anexei algumas fotos da cidade, em diferentes ângulos e momentos, para contar com a opinião de vocês se vale ou não os riscos da visita.

Um enclave de tolerância em Beirute

Pegue um dos táxis Mercedes amassados dos anos 70  no centro de Beirute, a capital do Líbano, e você terá a chance de cruzar com abundantes nomes glamourosos dos dias de hoje. Aqui, espalhados em uma das paredes de madeira compensada que cercam locais em que proliferam construções, está o logotipo do escritório de arquitetura de Norman Foster, anunciando um trio de prédios residenciais. Ali, num outdoor descendo a rua do chamativo Buddha Bar, está a cabeça calva que é a assinatura do arquiteto francês Jean Nouvel, que está criando um complexo chamado, modestamente, de O Marco. 


Graças a um par de anos de relativa estabilidade, esta capital do Oriente Médio está construindo como os faraós. Mas o "boom" tem seu custo. Edifícios antigos, repletos de maravilhosos detalhes mouriscos, foram demolidos. 


Felizmente, existe um antídoto. Quando a personalidade da cidade começa a se sentir sufocada pelo aço e pelo vidro, é possível tomar um táxi e dizer ao motorista a palavra que encarna tudo de mais dinâmico, estimulante e autêntico sobre Beirute: Hamra. 


Área progressista - Por muito tempo o centro da vida intelectual e dos políticos de esquerda antes da guerra civil de 1975-1990, este bairro de veneráveis edifícios de apartamentos de seis andares, campi universitários arborizados e cheio de vida na rua experimenta um renascimento. Uma série de novas livrarias e cafés com acesso à internet, espaços de arte contemporânea, bares acolhedores e ecléticos clubes de música estão ajudando a restabelecer Hamra como a região mais progressista da cidade. 


Ao longo de toda a rua principal, a Hamra, caminham matronas xiítas completamente vestidas de preto com o véu muçulmano e mulheres cristãs em minissaias. Leitores de trechos do Corão dividem as calçadas com vendedores de livros de design em francês. 


Para encontrar alguns dos personagens mais interessantes de Hamra, você pode começar pela Galerie Tanit, aberta há dois anos, que se uniu à antiga Galeria de Arte Agial para elevar o perfil de Hamra como um centro de arte contemporânea. 


Os artistas - Em uma tarde de agosto, as paredes estavam decoradas com várias colagens, a maioria de Zena el-Khalil, uma escritora e grande artista libanesa de 34 anos de idade que vive perto de Hamra há muitos anos e retratou o bairro em um livro de memórias, Beirute, Eu te Amo.


"A morte está a poucos passos de distância. Então acho que você desenvolve um tipo de humor ou ironia  que ajuda a tocar a vida." Zena oferece uma dica rápida na despedida: experimentar algum dos cafés de nova geração em Hamra.


Para quem usa calçados Birkenstock, o ponto de encontro é o Bread Republic, uma padaria e café inaugurado dois anos atrás que hospeda um pequeno mercado às terças-feiras. Para os criativos, o novo centro é o T-Marbouta. O espaço está escondido no segundo andar de um monótono shopping center (o Pavillion Center), em uma confusa rua lateral frequentada por libanesas idosas atrás de sapatos baratos de plástico.   


Com o café preto, a fumaça do cigarro Gauloises sobe entre as pinturas de artistas locais, exalada por universitários de óculos e jornalistas que batucam nas teclas de seus MacBooks. A música de Fairouz, a grande diva libanesa, se espalha suavemente pelo sistema de som. 


"Desde o começo, o T-Marbouta procura ser política e socialmente engajado", lê-se no manifesto, no cardápio, em inglês. "Um espaço cultural aberto onde todos podem vir para conviver, ler, se encontrar, navegar na internet e discutir questões cotidianas."


Hala Alsalman, uma documentarista canadense-iraquiana de 32 anos, estava sentada no sofá vintage próximo da biblioteca ao lado do café, que exibe filmes nas noites de segunda-feira e oferece uma impressionante seleção de livros, CDs e DVDs. 


Ela estava em Beirute para documentar a reconstrução da antiga sinagoga destruída no centro de Beirute, como parte de um projeto de filme sobre os judeus no Oriente Médio. A comunidade judaica de Beirute caiu para menos de cem pessoas, disse ela, mas o projeto da sinagoga ganhou financiamento do Solidaire – a corporação de desenvolvimento responsável por boa parte do centro de Beirute – e luz verde do Hezbollah, a organização islâmica xiíta, e de partidos políticos. 


"É um lugar incrível", disse ela, abrindo seu laptop para mostrar uma grande foto do imponente edifício com abóbadas no interior e detalhes arquitetônicos árabes. "Muitos libaneses nem sabem que está ali."


Músicas em Hamra - Mas o espírito da Hamra do século 21 surge mais completo com o pôr-do-sol e as luzes de seus muitos DJs e bares com música ao vivo. Esse espírito ecoa em cada canto do bairro, nas conversas animadas no lounge Ferdinand, famoso por seus hambúrgueres com geleia de mirtilo, o jazz e o pop árabe ecoando nos elegantes bares musicais como o Cello e o Mojo's.


Em uma noite de terça-feira, um trio chamado Pindoll encheu o pequeno palco do porão de um bar chamado Dany. O grupo navegou entre o swing, um funk excêntrico e versões jazzísticas para uma multidão embalada por garrafas de cerveja Almaza. Subindo as escadas, no terraço ao ar livre, o proprietário Dani Khoury, um diretor de arte de filmes de 33 anos, maravilha-se com a vida noturna local desde que abriu seu bar homônimo dois anos atrás.


"Não havia nada aqui", disse ele, entre os goles. "Hamra nunca foi afetado pela religião ou pela política", disse Khoury, que cresceu em um bairro cristão de Beirute, mas nunca pensou em abrir um bar que não fosse em Hamra. "Você verá que os vizinhos são cristãos, sunitas, xiítas, ortodoxos, maronitas, católicos, drusos, o que seja. Estão caminhando nas mesmas ruas, fazendo as mesmas coisas, comendo a mesma comida. "É uma admiração expressa muitas vezes entre os moradores e frequentadores de Hamra."É provavelmente o bairro mais cosmopolita do Oriente Médio."


#Líbano #Oriente-Médio #Cidades #Arquitetura
#End


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