por Augusto Carazza
Vamos falar de amor... Para isso, tomaremos como exemplo a Festa dos Protótipos – festa que revela como é nosso comportamento em relação ao amor do outro. Ela gera grande expectativa por parte dos integrantes e torcedores das agremiações, porque estes querem, enfim, ter uma idéia de como sua escola de coração passará pela avenida – Bonita ou feia? Luxuosa ou pobre? Chique ou brega? A partir desta primeira análise, surgem os comentários, muitas vezes, descabidos e apaixonados que, inclusive, já apontam, de forma precipitada, as campeãs e rebaixadas do ano seguinte. Todavia, a expectativa maior é para quem os idealiza e coordena sua execução – os carnavalescos. O peso é muito maior para estes artistas, porque estão submetendo suas criações ao gosto do público, de todo tipo de público, aliás. Naturalmente, isso cria uma ansiedade absurda e perguntas como “Será que as pessoas estão gostando? Será que estas fantasias refletem a história da escola? Agradaram ou não?”. Este processo é natural, mas perigoso, porque o artista tem como referencial o outro, ou melhor, o “amor do outro” e isto é um problema no que se refere à potencialidade criativa, que deve ser livre para qualquer artista.
Para muitos, o número de pessoas que aprovam nossas ações é correlato da qualidade daquilo que produzimos. Quanto mais ruidoso o aplauso, maior evidência de que fomos bem sucedidos. Esse tipo de raciocínio, no entanto, acaba por reduzir a qualidade à submissão ao gosto médio, àquilo que agrada ao grupo, à massa. Na realidade, isto não é o problema mais grave, mas, sim, quando hipnotizados pelo amor do outro, ficamos impedidos de ir além. Como assim?
É simples: para agradar ao outro, aos desejos do outro, muitas vezes renunciamos aos nossos próprios desejos, o que é terrível para nosso desenvolvimento criativo. Somos seduzidos facilmente, qualquer agrado nos satisfaz, porque ele nos insere na zona de conforto: eu sou amado! Porém, a busca deste amor é ilusória e é uma das grandes causas do sofrimento humano, porque acreditamos que nossa realização está na compreensão do outro, mas isso é impossível, a relação é impossível.
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