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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Revirão no Samba

Lage, Magalhães e Barros – Três histórias de ‘reviramento’ no carnaval carioca
por Augusto Carazza

O que Lage, Magalhães e Barros têm em comum? Os três já aplicaram (se assim podemos dizer) o Revirão, ou seja, reinventaram-se. Mas, do que se trata? A princípio, faz-se necessário explicar o que entendemos por ‘reviramento’. O que diferencia a espécie humana das demais é justamente a capacidade de revirar uma situação posta, tanto pelo próprio homem, quanto pela natureza. Esta última, por exemplo, traz a seguinte pedra no caminho: “homem, você não pode voar!”, todavia, esse ser ‘doidinho’, dotado da capacidade de ‘revirar’, inventa um aparelho que dribla a natureza e, assim, facilita sua vida, ao diminuir distâncias. Há vários outros exemplos de mesma ordem...

No campo cultural, essa história também procede quando fórmulas desgastadas – cinema, televisão, literatura, arte, psicanálise, carnaval – forçam, em determinado momento, a emergência do ‘Novo’, que logo se tornará velho. Porém, como este ‘Novo’ pode emergir? Não é tarefa fácil, como já adiantamos! Eis um comentário do psicanalista MD Magno (o conceito do ‘revirão’ foi criado por ele) sobre tal problemática: “alguma coisa nos acossa de tal maneira que, de repente, podemos ficar angustiados. Aí é que há possibilidade de acontecimento de uma tentativa, uma ocasião, de se virar. É só eventualmente que o Vira-ser comparece” (Natureza do Vínculo, 1993, p.27). Deste modo, o surgimento de algo novo vem a partir de uma insatisfação (que provoca angústia) com algo estabelecido (“lixo cultural”), que já não mais faz sentido, abrindo, assim, caminho para um novo discurso, que irá re-ordenar o status quo (por um tempo). Tais conceitos também podem ser observados no caminhar do carnaval.

Virando nas viradas desta vida...
Renato Lage – então carnavalesco de Castor – imprimiu sua marca ao desenvolver o enredo “Vira, virou, a Mocidade chegou!” Num momento em que a escola de Padre Miguel passava por um período delicado, pois com a morte de Fernando Pinto (1987), a agremiação ficou (nos dois anos que se seguiram) “perdida” numa espécie de ‘crise existencial’ semelhante a que seria vista mais adiante, nos anos 2000... Precisava, portanto, de uma virada. E esta veio com Renato e Lilian que souberam entender o momento pelo qual a escola estava passando para, enfim, imprimirem um modelo campeão. Com diz Magno, o ‘Vira Ser’ comparece em momento de crise (angústia), pois esta é a fonte de novas idéias, é o que nos move em direção a algo que faça sentido.


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