Twitters, Facebooks e outros sucessos recentes da Internet não produzem conteúdo, mas oferecem suporte para as mensagens, fotos, vídeos e todo material, publicamente relevante ou não, alimentado pelos próprios usuários. Enquanto isso, manter uma estrutura de apuração, produção e edição custa caro e não parece ter oferecido, ao menos por enquanto, retorno suficiente para que se concentrem na oferta de conteúdo - e não na de suportes - as atenções do mercado.
Bom, isso pode estar prestes a mudar. Para entender o porquê, uma das fontes pode ser o artigo da jornalista Milagros Pérez Oliva, publicada no jornal El País, no final de julho, que, entre outras coisas, examina a "redação multimídia" do periódico britânico The Daily Telegraph:
A imprensa escrita não está morta, pode ainda ter uma vida longa, mas o futuro definitivamente é digital. Este poderia ser o resumo de uma série de debates de que participei nas últimas duas semanas na Universidade de Santander, Universidade de León e no Colégio de Jornalistas da Catalunha. Em todos eles se discutia a crise da mídia escrita e as inquietantes incógnitas que dizem respeito sobre o futuro do jornalismo, uma questão que preocupa as redações.
Assim como em outros jornais, o El País se encontra atualmente envolvido em uma mudança estratégica para se adaptar às enormes possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias. As mudanças organizativas e tecnológicas abrem grandes oportunidades, mas também certos riscos. A mais importante dessas mudanças é a integração das duas redações, do jornal impresso e do digital, que há anos não apenas trabalhavam em separado, como pertenciam a diferentes empresas do grupo.
A redação multimídia irá fornecer conteúdo em diferentes suportes. O que confere gravidade e incerteza a atual situação da mídia escrita é a coincidência de pelo menos três crises que operam de forma simultânea: a crise econômica em geral que levou a uma queda sem precedentes nas receitas publicitárias; uma crise do modelo industrial e tecnológico, o que nos obriga a repensar não apenas o formato do jornal, mas a organização do trabalho jornalístico, e uma crise que afeta a credibilidade do jornalismo em geral, e nos últimos anos levou a um intenso debate.
A migração dos leitores para o formato digital não está sendo acompanhada pela correspondente migração em relação à publicidade. Na verdade a edição digital não seria rentável se tivessem que produzir por si mesmos o conteúdo que é fornecido pela edição impressa. Na prática, os leitores que compram diariamente o jornal estão subvencionando os leitores que acessam o jornal digital de forma gratuita. A combinação destas crises está dando lugar a muitos paradoxos. O primeiro é que, em uma sociedade acelerada e permanentemente preocupada em antecipar o futuro, dispor de informação confiável e de qualidade é mais importante do nunca.
Neste momento são mais lucrativas as empresas tecnológicas que proporcionam novos suportes e acessos, do que aquelas que produzem os conteúdos. Isso não parece ser sustentável. Apesar das incertezas, todos concordam que o futuro está no máximo desenvolvimento do conteúdo digital. Os jornais mais inovadores já começaram a transição para um novo modelo de produção que converte fornecedores de conteúdo em suportes de múltiplas mídias (papel, computador, telefone, livro eletrônico, televisão, etc.) e múltiplas formas (impressa, áudio, vídeo).
Jornais como o The New York Times, The Guardian e The Washington Post estão avançando no processo de integração de suas redações por diferentes maneiras, mas é o The Daily Telegraph o que parece ter chegado mais longe na criação de uma redação multimídia preparada para oferecer conteúdos em todos os meios de comunicação. Dar a notícia o mais cedo possível converte-se num imperativo categórico, o qual pode afetar à qualidade da informação se não forem estabelecidos mecanismos de controle de qualidade ágeis, mas também muito severos para compensar a incerteza que a pressa representa no jornalismo.
Assim, os jornais que devido à crise econômica preferiram dispensar os profissionais veteranos para reduzir custos, talvez sintam falta deles em breve.
Publicado por Thyago Mathias
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