“A fronteira da alvorada” (La frontière de l'aube, França, 2008) parece perdido no tempo em que os manicômios ainda usavam choques elétricos sem culpa. O abuso de maneirismos surrealistas – que completam o quadro de tentativa de reprodução da vanguarda francesa – em vez de chocar ou levar a platéia à reflexão ou à catarse provoca risos. Foi triste ouvir no cinema as vaias e os risos de quem achou patético aquilo que se pretendia trágico.
O filme não é ruim, mas também não envolve. Louis Garrel, o galã jovem da intelectualidade francesa, que tem excelentes trabalhos no currículo, e as duas boas atrizes que contracenam com ele, Laura Smet e Clementine Poidatz, são chamarizes que não compensam metade do ingresso. Metade, porque é assim o resultado, no meio: nem ruim, nem bom. O problema é que tampouco seja diferente.
Toda a obra tem um quê nitidamente intencional de déjá vu. Parece resultado de um saudosismo que, ao menos, foi eficiente em retratar a carência humana.É a carência existencial de quem tem tudo ou, ainda, a carência do desejo de ser amado que fundamenta a trama. Trata-se de relações de carência e desejo e de saciedade e insatisfação, que, psicologicamente só pode ter fim com a morte. É, pois, justamente na obsessão neurótica, que surge a partir dessas relações e que abre espaço para inserções tendentes ao surrealismo, que o filme parece mais francês. Por isso, merece parabéns por ser autêntico ao revelar o que tantas outras produções conterrâneas já mostraram: que a França, talvez junto com a Alemanha, encontra-se dependente demais do divã.
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