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terça-feira, 21 de abril de 2009

Cesar Maia e o "Muro da Miséria"

Há pelo menos cinco edições de seu ex-Blog, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia segue criticando a iniciativa do Governo do Estado, com apoio do atual prefeito, de construir muros entre favelas e áreas verdes da cidade.

Seguem algumas das postagens, que reproduzem artigos e notas de jornais:

El País (Espanha) chama o muro da vergonha de "muro da miséria" e diz que divide o Rio!
"El muro de la miseria ya divide Río". "Once favelas son cercadas para contener su expansión y luchar contra la droga". (20/04)

Do artigo de Luiz Fernando Janot, urbanista, professor da UFRJ, no Globo de hoje:
"Na Idade Média a cidade se fechava para os perigos externos através de muralhas periféricas. Talvez essa tendência seja um prenúncio lamentável da construção de um apartheid social na cidade... Um grande muro periférico envolvendo as comunidades instaladas nos morros para conter sua expansão é uma proposta simplista e comprometedora visualmente, da própria paisagem que se quer ver preservada". (17/04)

G1. Representantes de cem associações de moradores do Rio de Janeiro se manifestaram ontem, quinta-feira, contra o projeto de instalação de muros em torno das favelas. A Defensoria Pública informou que pode tomar medidas para impedir a instalação das barreiras de concreto. (17/04)

Clovis Rossi - FSP:
O muro, aí como aqui. Saio do Brasil com a polêmica sobre o muro em torno de uma favela carioca comendo solta. Chego a Port of Spain, em Trinidad e Tobago, com a polêmica sobre o muro para esconder uma favela comendo solta. Ah, América Latina, quando se fecharão suas veias eternamente abertas, para citar o clássico de Eduardo Galeano? O "Miami Herald" visitou o muro e reproduziu ontem frase de um dos moradores de Beetham Gardens, a favela que está sendo escondida. (16/04)

Proposta de CAMUFLAR o Muro da Vergonha com vegetação (ler na coluna do Ancelmo, do Globo) é o reconhecimento do absurdo de se cercar com muros medievais, as favelas. Pior a emenda que o soneto. Viraria chacota. (16/04)

Ontem, o Caderno de Turismo de EL PAÍS teve o Rio como tema. Matéria positiva. Mas infelizmente a questão dos muros da vergonha foi realçada na matéria. Abaixo, trecho.
"Hay un punto de urgencia en ello: queda poco tiempo para conocer Río de Janeiro antes de que cambie definitivamente su aspecto, pues el gobierno regional ha comenzado a levantar muros que aíslan las favelas de las zonas más turísticas." (15/04)


Roberto DaMatta (coluna no Globo): "Um muro para deter o avanço da iniquidade social, não vai conseguir coisa alguma. Antes de realizar tal monumento à sacralização da desigualdade em escala estupidamente grandiosa, vale a pena pensar numa coisa óbvia. Todo muro tem dois lados. Do lado de lá, ele vai servir de trincheira,casamata e torre para os que se aproveitam da pobreza 'criminosamente' e não apenas pelo voto. Com o muro concretiza-se o que o Zuenir Ventura diagnosticou como uma cidade partida, que murada, será irremediavelmente repartida". (15/04)

O presidente da associação de moradores da Rocinha diz que o crescimento da Rocinha é vertical e o muro não trará benefícios. "A Rocinha hoje não está se expandido para a mata. O muro vai impedir que as crianças peguem fruta na mata e as donas de casa busquem água, enquanto a favela sofre com o problema de falta de água tratada". O governo do Rio de Janeiro licitou na semana passada a construção de 3,4 km de muros nas favelas da Rocinha, Pedra Branca e Chácara do Céu. A obra custará R$ 21 milhões. Na Rocinha, maior favela da zona sul, 415 famílias terão que ser removidas de suas casas durante a construção dos paredões de três metros de altura. A Rocinha, em São Conrado, receberá 2,8 km de muro. Segundo a Emop, 114 famílias serão transferidas para apartamentos construídos na própria comunidade e as outras 301 vão receber indenizações. Segundo o IPP-Prefeitura-Rio, a Rocinha cresceu 1,41%, de 1999 a 2008. (Trechos de matéria da FSP). (14/04)


Paira a dúvida se tanta insistência de Cesar Maia deve-se apenas ao fato de que a autoria do projeto seja de seus desafetos do PMDB, Cabral e Paes. Em sua mais de uma década no comando do município, Maia tornou-se conhecido pelo projeto Favela-Bairro, que poderia ser visto como um modelo de integração das comunidades à "cidade urbanizada", se não tivesse falhado em conter o crescimento dessas mesmas comunidades e em levar a civilidade e o controle do Estado esperados em qualquer núcleo urbano.

Murar, talvez, não seja a melhor ideia. A gritaria, entretanto, que se tem ouvido de parte da inteligentsia brasileira e internacional, ainda saudosa do Muro de Berlim - tanto que enxerga esse muro em qualquer outro que seja construído no mundo -, não resolve o problema. É preciso haver debate e, simplismente, tachar de facista a solução do muro não é propor uma alternativa.

Os estudos do Instituto Pereira Passos que mostram um avanço maior da classe-média do que das favelas sobre as matas cariocas não deixa de ser um exemplo de como números e porcentagens podem ser ilusórios, meros artifícios para manipulação. O baixo crescimento percentual da Rocinha, por exemplo, não significa que ela tenha derrubado pouca mata, em números absolutos. Além disso, muito do que foi tachado de classe-média encontra-se justamente às margens de algumas das comunidades "urbanizada" ou "bairrizadas" do Rio. Em algumas favelas da zona-sul, já não se pode ser pobre e favelado ao mesmo tempo. A especulação imobiliária - vide o caso do minhocão da Rocinha - só permite, hoje, a existência de uma classe-média, ainda que marginalizada e afrontada, nessas comunidades.

Para reflexão e como fomento ao debate, vale conferir reportagem
do Globo de 16 de abril, que mostra como algumas experiências de contenção de favelas com eco-limites funcionaram, de fato, preservando a mata e sem gerar o tão mal afamado apartheid social.

Publicado por Thyago Mathias

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